terça-feira, 4 de agosto de 2009

Noite perdida

As ruas não são mais as mesmas
Nem mesmo eu estou nelas
Logo eu que vivia em suas esquinas
Logo eu que morria nas calçadas
Quem diria que estaria cheio de “ria”
Ria, ria de mim!
Mas ria alto, ria com gosto!
Em breve perco o posto de ser alvo de piadas
Tão largas e tão vazias
Para que postes de luz? Somos todos caseiros noturnos.
Morcegos ao contrário.
Dormimos a noite e perambulamos a luz do dia

Boca e sarjeta
Beco e mureta

A cada passo na varanda
Vejo novas janelas
A cada vaso de planta
Vejo novos surtos
A cada grito no escuro
Ouço meus amigos
Ou sou a mim mesmo
Fácil é gritar gol
Nem isso eu ouço mais
Viajo nos mesmos aviões
Que fazem todos os dias os mesmos barulhos
Únicos que ainda interferem na minha TV
Ferida que não sei de onde veio
Mas hoje eu não volto mais para rua
Nossa rua.

Ta tão frio aqui sob o ventilador
O meu amor deve estar lavando roupa
Sob a luz da lua
Rua que me dá preguiça
Medo que me dão esses ruídos
Amigos dos meus amigos
Desconhecidos e desaparecidos
Mortos e perdoados
Chego a temer esse vento em meus ouvidos
Chego a tremer nesse vento arrependido
Chego aqui sem pudores
Não posso sofrer sem dor
Não sei o que fazer com o amor pelos outros

O mundo ta bom assim
Já fiz minha parte
Mesmo sem ter feito coisa alguma

Só seria assim, se assim fosse todos os dias
Todas as noites
Todos os dramas
Todas as lamas
Todas as camas

O criado mudo acabou de derrubar o meu vinho na cortina branca

Nenhum comentário: